Os
efeitos desastrosos de uma má logística inversa
As empresas envolvidas na
comercialização de bens não podem ignorar a irritação da jovem Marta, o
aborrecimento da Dona Maria Amélia, e a impaciência do empreendedor João
António. Ou seja, não podem ignorar os efeitos desastrosos da ausência de uma
logística inversa eficiente.
De entre os principais,
são de destacar as altas taxas de devolução, os elevados custos em transporte e
armazenamento das devoluções, demasiado tempo de processamento e acumulação de
produtos sem destino definido, discórdia com clientes e/ou com fornecedores, não-conformidades
legais/ambientais e respetivas penalizações.
Por outro lado, as
empresas não devem ignorar que existem vários obstáculos internos sérios para
uma boa gestão de logística inversa, como são a necessidade de “sponsorship”,
já que a operação é vista como um custo e de importância marginal
comparativamente à logística direta, uma infra - estrutura inadequada, dado que
o processamento do fluxo inverso é geralmente feito em centros de distribuição
desenhados para a logística direta, sistemas de informação inadequados, porque
estes são desenhados para apoiar a logística direta, e até desconhecimento, porque
muitas empresas desconhecem as componentes e interligações da logística inversa
e não têm disponíveis informações para a tomada de decisão.
Assim, os decisores devem
ter em conta que a operação é complexa e contempla, imperativamente, grandes desafios
para as empresas. O primeiro é que o modelo de Gestão tem de ser revisto,
devido à necessidade de gestão de fluxos inversos. De facto, é preciso ter em
conta o ciclo de vida completo do produto em vez de somente até à sua entrega
ao cliente, uma abordagem à reutilização e recuperação dos produtos para
reintrodução nos circuitos produtivos e/ou comerciais, processos de reciclagem
e eliminação, devoluções. Assim, se a organização não medir o tempo de
processamento dos produtos retornados, não tem forma de saber se está a atingir
um bom desempenho.
A lista de desafios não
se fica pelos já elencados. De facto, é ainda necessário equacionar os
previsíveis conflitos, já que a falta de condições de devolução claramente
definidas contratualmente levam a ineficiências que alongam o tempo de
processamento e podem causar danos a ambas as partes. Normalmente, as partes
costumam encontrar um desacordo quanto ao estado do produto, valor do produto e
adequação dos prazos.
Por outro lado, os
decisores empresariais devem ter em conta que boas políticas de gestão de
logística inversa libertam benefícios assinaláveis. De facto, com uma boa
política nesta área, as empresas conseguem identificar oportunidades de
melhoria da produtividade nos processos e oportunidades de redução de
devoluções indesejáveis, racionalizar e acelerar o processo de devoluções, alcançar
reduções de custos em transporte, armazenamento, reprocessamento de produtos,
reembalagem e outros, aumentar receitas potenciais com produtos devolvidos, reduzir
custos de não-conformidade com legislação/regulamentação, detetar novas
oportunidades de mercado e formar colaboradores melhor preparados para
desempenhar procedimentos de exceção.
Numa frase, a logística
inversa exige boas práticas, e deve ser tida em conta a sua dimensão
financeira, como veremos no “post” seguinte desta série.
Carlos Carvalho/Logistema
ccarvalho@logistema.pt
Carlos Carvalho/Logistema
ccarvalho@logistema.pt