5 de maio de 2015

O Desafio Decisivo da Logística Inversa (parte 2)

Os efeitos desastrosos de uma má logística inversa

As empresas envolvidas na comercialização de bens não podem ignorar a irritação da jovem Marta, o aborrecimento da Dona Maria Amélia, e a impaciência do empreendedor João António. Ou seja, não podem ignorar os efeitos desastrosos da ausência de uma logística inversa eficiente.

De entre os principais, são de destacar as altas taxas de devolução, os elevados custos em transporte e armazenamento das devoluções, demasiado tempo de processamento e acumulação de produtos sem destino definido, discórdia com clientes e/ou com fornecedores, não-conformidades legais/ambientais e respetivas penalizações.

Por outro lado, as empresas não devem ignorar que existem vários obstáculos internos sérios para uma boa gestão de logística inversa, como são a necessidade de “sponsorship”, já que a operação é vista como um custo e de importância marginal comparativamente à logística direta, uma infra - estrutura inadequada, dado que o processamento do fluxo inverso é geralmente feito em centros de distribuição desenhados para a logística direta, sistemas de informação inadequados, porque estes são desenhados para apoiar a logística direta, e até desconhecimento, porque muitas empresas desconhecem as componentes e interligações da logística inversa e não têm disponíveis informações para a tomada de decisão.

Assim, os decisores devem ter em conta que a operação é complexa e contempla, imperativamente, grandes desafios para as empresas. O primeiro é que o modelo de Gestão tem de ser revisto, devido à necessidade de gestão de fluxos inversos. De facto, é preciso ter em conta o ciclo de vida completo do produto em vez de somente até à sua entrega ao cliente, uma abordagem à reutilização e recuperação dos produtos para reintrodução nos circuitos produtivos e/ou comerciais, processos de reciclagem e eliminação, devoluções. Assim, se a organização não medir o tempo de processamento dos produtos retornados, não tem forma de saber se está a atingir um bom desempenho.

A lista de desafios não se fica pelos já elencados. De facto, é ainda necessário equacionar os previsíveis conflitos, já que a falta de condições de devolução claramente definidas contratualmente levam a ineficiências que alongam o tempo de processamento e podem causar danos a ambas as partes. Normalmente, as partes costumam encontrar um desacordo quanto ao estado do produto, valor do produto e adequação dos prazos.

Por outro lado, os decisores empresariais devem ter em conta que boas políticas de gestão de logística inversa libertam benefícios assinaláveis. De facto, com uma boa política nesta área, as empresas conseguem identificar oportunidades de melhoria da produtividade nos processos e oportunidades de redução de devoluções indesejáveis, racionalizar e acelerar o processo de devoluções, alcançar reduções de custos em transporte, armazenamento, reprocessamento de produtos, reembalagem e outros, aumentar receitas potenciais com produtos devolvidos, reduzir custos de não-conformidade com legislação/regulamentação, detetar novas oportunidades de mercado e formar colaboradores melhor preparados para desempenhar procedimentos de exceção.

Numa frase, a logística inversa exige boas práticas, e deve ser tida em conta a sua dimensão financeira, como veremos no “post” seguinte desta série.

Carlos Carvalho/Logistema 
ccarvalho@logistema.pt

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