Os
custos financeiros desconhecidos
Na empresa de
telecomunicações, onde os colaboradores estão sempre demasiado ocupados,
ninguém procurou saber qual a empresa que pode recolher do modo mais barato o
telemóvel da jovem Marta. Do mesmo modo, o grossista de eletrodomésticos
esqueceu-se de quantificar quantas máquinas de lavar retornadas cabem no
armazém.
Por mais insólito que
possa parecer, uma larga maioria das empresas não consegue quantificar quanto
lhe vai custar a birra da jovem Marta, a falta de cuidado da Dona Maria Amélia,
e o finca-pé do empreendedor João António.
A maioria das empresas
não tem meios para identificar onde a logística inversa afeta os seus
resultados e margens simplesmente porque os seus sistemas de custeio estão
virados para o controlo dos custos num fluxo direto e não dão visibilidade aos
custos da logística inversa.
Ao mesmo tempo, a
logística inversa, para além de ser um fluxo físico e informacional de sentido
oposto ao tradicional, é também uma componente do negócio das empresas que
geralmente oculta custos das operações e contribui para a redução de margens de
negócio. Assim, os decisores empresariais deveriam fazer uma pesquisa “in
house”, para poderem quantificar o impacto da logística inversa. Quanto custa o
processamento de um produto devolvido? Quanto custa a permanência em armazém de
produtos devolvidos? E em espaço contratado ao operador logístico? Quanto pode
ser reduzido no Capex pela reinserção de equipamentos retornados? Qual o
impacto fiscal de imobilizado obsoleto em equipamentos? Quais os custos acrescidos
de serviços logísticos externos por operações de valor acrescentado imprevistas
nos contratos? Quais os custos de garantias e seguros com clientes e
fornecedores de produtos devolvidos? Quais os custos acrescidos de transportes
para satisfazer necessidades imprevistas de recolha de produtos? Quais os
custos e riscos financeiros de incumprimento de prazos em processos de
logística inversa com clientes, fornecedores e autoridades, como por exemplo a
regulação da propriedade de produtos retornados ou a abater?
Dados quantitativos de
resposta às perguntas acima partilhadas poderiam ajudar a encontrar o valor
exato dos custos de logística inversa que, embora difíceis de determinar,
indiciam o seu peso relevante no total de custos logísticos nas empresas e na
economia em geral.
Por exemplo, o Reverse
Logistics Executive Council calcula que nos países ocidentais os custos de
logística inversa são cerca de 4% dos custos totais de logística. Os custos de
logística inversa nos USA foram avaliados entre 0,5% a 1% do produto total. O
Supply Chain Consortium garante que os custos de logística inversa valem entre
3% a 4% dos custos logísticos das empresas.
Em Portugal escasseiam as
estatísticas sobre logística inversa. No entanto, um estudo da revista
Logística Moderna, publicado em 2013, sobre “Supply Chain em Portugal” afirmava
que mais de 8% das empresas inquiridas possuíam um custo de logística inversa
superior a 9% do volume de atividade.
Mas, infelizmente, no
geral, a maioria das empresas não faz ideia de quanto lhes custa a logística
inversa.
Tal acontece
principalmente porque a estrutura de custos da logística inversa é muito
diferente da logística direta. No canal direto, os custos estão bem definidos e
os sistemas contabilísticos estão desenhados para determinar estes custos com
exactidão. As operações e os sistemas são projetados para a logística direta, o
que implica a adaptação dos recursos disponíveis ou a busca de meios adicionais
para a resolução dos problemas específicos da logística inversa.
Por outro lado, muitas
situações que implicam a ação da logística inversa percorrem várias áreas da
empresa, são aleatórias e imprevisíveis.
Uma das maiores
dificuldades consiste em saber como a empresa pode recolher, de modo eficaz e
económico, todos os produtos desde o local onde já não são desejados e
transferi-los para o local onde possam ser processados, reutilizados ou
recuperados, após o que deve determinar o destino a dar a cada um dos produtos
entrados no fluxo inverso, para lhes atribuir valor acrescentado na
organização.
Assim, continuam a
existir custos relativos às atividades de logística inversa que se encontram
ocultos nos sistemas de controlo de custos da maioria das empresas.
No entanto, vários sectores de atividade têm
incorporado na sua organização processos de logística inversa, algumas vezes
por imposição legal ou regulamentar. São exemplos desta situação os sectores
farmacêutico, alimentar e automóvel, onde a necessidade de processos de recuperação
de produtos colocados no mercado é frequente.
No sector tecnológico, a
logística inversa impõe requisitos adicionais de sistemas de informação de
“track & trace” serializado, ou seja a necessidade de obter informação
sobre o ciclo de vida de um produto pelo seu número de série específico.
Deste modo, um esforço
para incorporar e operacionalizar os custos de logística inversa devem ser uma
prioridade para as empresas. Algumas boas práticas podem ajudar, como veremos
no “post” final desta série.
Carlos Carvalho/Logistema
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